Monday, September 17, 2007

Estado da Educação


Não são os números das listas de docentes não colocados que mostram que a Educação vai mal neste País. O que mostra que a Educação vai mal é o estado visível da mesma. Basta olhar, com sentido crítico, para aquilo que são as condições de ensino para o perceber. E, no final, será fácil entender que o problema também são os docentes extremamente necessários que ficam por vincular e contratar.

Ensino Pré-Escolar

Começando pela base, os alicerces da Educação, uma fase reconhecidamente fundamental no desenvolvimento de capacidades e competências, a Educação Pré-escolar, é uma palhaçada.

Neste país, não é mais do que um local onde as Educadoras de Infância tomam conta das crianças, entretendo-as a fazer uns desenhos e umas pinturas, não havendo condições para um trabalho sério.

O país forma, e bem, profissionais para uma realidade e, após a conclusão do curso, apresenta-lhes outra, a qual podemos considerar miserável.

Em primeiro lugar, o Ministério não tem definido um currículo de competências a desenvolver, mas sim umas orientações, o que por si só já é sinónimo da pouca importância atribuída a este nível de ensino. Ou seja, estamos numa área fundamental vazia de objectivos curriculares.

Em segundo lugar, os estabelecimentos existentes servem uma minoria das crianças e não apresentam condições físicas capazes de oferecer um ensino Pré-escolar digno da importância do mesmo, hipotecando uma formação capaz de dar aos alunos as competências fundamentais nas diferentes áreas.

Quando a Senhora Ministra diz que não precisa de Educadoras de Infância, deveria poupar esse esforço e começar a pensar em reformular a Educação pela sua base, criando uma rede de estabelecimentos para todos, com um currículo definido e salas para as diferentes faixas etárias (3, 4 e 5 anos). E aí, teria de reformular a sua frase e dizer que as mesmas não chegavam.

A isto eu chamo progredir e investir no futuro do país. Era isto que deveria ser exigido pela população. O resultado seria uma merecida Educação Pré-escolar para todos e alunos mais capazes e mais competentes para o desenvolvimento das aprendizagens, situação que influenciaria todo o percurso académico e, consequentemente, a formação geral da futura população adulta do nosso país.

1.º Ciclo do Ensino Básico

Nas escolas do 1. º Ciclo do Ensino Básico verifica-se, de forma clara, uma redução das condições de trabalho. A prioridade tem sido, pura e simplesmente em nome da redução de custos, a redução das turmas e o aumento do número de alunos das mesmas.

Havendo alunos com Necessidades Educativas Especiais, não há Professores de Apoio para os mesmos. Claro que se perguntarem à Senhora Ministra, ela responde que os há. De facto, haver um para quinze escolas, faz com que haja mesmo, o que faz as suas palavras verdadeiras. Mas sinceramente, quem tiver dois dedos de testa, percebe facilmente que são insuficientes.

Em termos de infra-estruturas, a maioria das escolas não oferece condições de trabalho, sobretudo para as áreas das Expressões Física e Musical. Já para não falar das condições de conforto das mesmas, num país onde os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia se reúnem em mesas de 25 mil euros desenhadas por Siza Vieira.


Encerramento de Escolas

Ainda neste ciclo, caso polémico tem sido o do encerramento de mais de duas mil escolas. E, neste ponto, concordo com o encerramento de algumas. Não faz muito sentido verificarmos que, na mesma freguesia, existam, por exemplo, 3 ou 4 escolas com 10 alunos cada. No entanto, o encerramento terá de ser acompanhado, caso seja necessário, com o desenvolvimento dos espaços físicos de uma delas (a mais central ou a que apresentar melhores condições físicas) a afim de receber todos os alunos com condições para o ensino.

É o que acontece? Quantas vezes os alunos são empurrados para escolas distantes ou para locais sem as mínimas condições? Será normal que tal aconteça? Não merecem estes alunos uma educação de primeira?

E, por acaso, já alguém pensou que é a ausência de condições nalgumas destas escolas que leva os Encarregados de Educação a transferir os seus filhos para escolas situadas nas cidades? Já alguém pensou que, noutras condições, não se verificaria a desertificação das mesmas? Ou tudo tem a conveniente explicação da baixa natalidade?

Acho que quem paga impostos deveria exigir uma educação de qualidade, capaz de promover o desenvolvimento do nosso país. Caso contrário, onde está o sentido de pagamento dos mesmos? Infelizmente, para a maioria da população o único sinal de alarme é o Centro de Saúde lá da terrinha a encerrar.

Um dia destes a Senhora Ministra dizia que o Ministério não podia colocar todos os 50 mil docentes que concorreram. E já estou a ver as famílias reunidas a jantar e a dizer "Ah pois não...isto não é assim!" É verdade. Mas ninguém disse que o país precisava desses 50 mil. Mas, se calhar, de metade precisava. Ninguém exige a contratação de quem não é necessário. Exige-se a contratação de gente necessária ao Sistema de Ensino. Essas famílias que olhem para as escolas onde têm os filhos e verifiquem as condições das mesmas. Analisem a constituição das turmas. Questionem por que motivo há 20 alunos de um determinado ano distribuídos por anos lectivos diferentes, não formando os mesmos uma só turma. Verifiquem os alunos com dificuldades de aprendizagem e vejam quantas horas por semana têm direito a apoio educativo.

Mais, olhem para as actividades de enriquecimento curricular e avaliem-nas. Por que motivo muitas são garantidas por gente sem formação. Por que motivo o Agrupamento não coloca Professores das áreas abrangidas (Inglês, Educação Física, Educação musical, Expressão Plástica, etc.), formados, pelas Escolas Superiores, para o respectivo grau de Ensino, a garantir o ensino nas Escolas dos mesmos, em vez de serem as Câmaras Municipais a contratar empresas que por suas vez, com base na exploração, contratam quem por lá cair, para garantir estas actividades? Mas nós formamos, temos necessidade, e depois não recorremos a quem investimos? Alguém me explica?

É frustrante ouvir a Ministra gabar-se desta palhaçada de actividades e não haver ninguém que a ponha perante estas questões. Não basta dizer que se faz e está concluída a questão. Há que saber e observar como se faz. De facto, as mesmas seriam uma grande aposta, caso fossem desenvolvidas de forma séria. A verdade é que o Ministério não o faz com seriedade. Criou, publicitou e libertou-se das mesmas sem garantir a sua lógica e qualidade. Afinal, o essencial está lá...a publicidade ao Governo...que fez! Fez, mas fez MAL!

No fundo, a Educação vai mal porque não é uma aposta. Ao contrário do que se apregoa, não está a evoluir. Está, claramente, a regredir.

É triste perceber que o motivo de tal situação é o corte orçamental. Custa-me acreditar que não exista uma consciência dos membros do Governo de que a área está a ser mal conduzida.

E é tão fácil perceber que tudo é política e que tal opção não é compatível com o investimento e evolução na educação, nos alunos e no futuro do País.

4 comments:

Sara said...

Olá!
Concordo com a maior parte do que escreveste! Não há condições de trabalho, não há condições físicas nem humanas suficientes em quantidade e qualidade. Mas felizmente há excelentes profissionais, que, contra tudo e todos, tentam fazer um bom trabalho, e muitas vezes conseguem-no.
«Neste país, não é mais do que um local onde as Educadoras de Infância tomam conta das crianças, entretendo-as a fazer uns desenhos e umas pinturas, não havendo condições para um trabalho sério.»
Isto não é, de todo, verdade. Embora não haja condições, há quem desenvolva um trabalho sério e com muita qualidade! As orientações curriculares são um instrumento legítimo! Não se pretende, nem é suposto, escolarizar o pré-escolar. Falamos de crianças pequenas, com necessidades específicas!
Uma boa solução seria tornar o pré-escolar obrigatório, pelo menos ao nível dos 5 anos (muito mais lógico e urgente que alargar a escolaridade obrigatória ao secundário, na minha modesta opinião!)

Ricardo Fonseca said...

Olá, Sara.

Claro que o trabalho desenvolvido, pelas Educadoras de Infância, é sério. Mas, na maioria dos estabelecimentos da rede pública, a falta de condições é uma barreira à qualidade. Certamente há excepções.

A realidade desejável e MERECIDA seria muito próxima da existente no ensino particular.

Eu defendo uma rede pré-escolar dos 3 aos 5 anos (para todos), no qual se rentabilizem os momentos óptimos de aprendizagem que ocorrem nestas idades. Pode haver um currículo de capacidades a desenvolver, respeitando, obviamente, as características e necessidades destas idades.

Cristina said...

Toda esta palhaçada da abertura do ano lectivo faz-me rir...

Concordo contigo a respeito da escola primária. Vai-se lá para fazer umas bonecadas, aprender algumas coisinhas e mesmo que não as aprendas, o professor passa-te... Todos tem de passar. Não sei onde querem ir com um sistema assim.

Depois, do 5º ano 9º, começam-nos a dar aulas com mais substância e começamos a nossa formação, de facto. Os professores pecam muito pela pouca exigência e ligação que tem com os alunos. Uns estão lá só para ganhar dinheiro, outros porque são obrigados. O resultado são os maus desempenhos nacionais, provados mesmo em exames que pouco interessam (qual foi a mente iluminada que os criou mesmo?).

Chegámos ao 10º,11º e 12º e é o descalabro... É preciso ter sorte para encontrar uma turma que nos permita de facto estudar. Os professores exigem pouco e ajudam menos ainda na formação do aluno. Muitos têm medo do que os alunos possam fazer. Andamos três anos a matar a vista para conseguir ter notas decentes e entrar para um curso superior e para quê??

Saímos passados 4 anos, com um futuro miserável à nossa frente! Hoje, pessoalmente, penso que optei mal, que devia ter começado logo a trabalhar. Trabalho fora da minha área, ganho como uma não licenciada, então de que serviu (ou servirá) o curso?

Espero que o futuro seja mais risonho para mim e para todos, mas, sinceramente, não penso que vá ser assim. Estas novas medidas governamentais (de aumentar o número de vagas nas faculdades e apoiar um crédito ao estudante universitário) não me parecem as melhores soluções para proporcionar um bom futuro aos novos educandos deste país.

Tristechado said...

Nem mais miúdo... gostei particularmente de alguns termos que utilizaste como "palhaçada"... é isso mesmo que é a escola em Portugal... uma palhaçada pegada...

Quando aos Professores e Educadores (não só os de Infância como todos eles) são neste momento meros "PASTORES" como lhe costumo chamar... são "Guardadores de Alunos" ou de "Potênciais alunos"... porque o termo "aluno" implica normalmente alguem que está interessado em aprender algo que um "professor" tem para ensinar...

o futuro do ensino em Portugal é fácil de antever "PRIVATIZAÇÃO" como em todos os outros sectores... a desresponsabilização do ESTADO tem sido gritante e será cada vez maior... a "suposta autonomia das escolas" é outra indicação clara que é por aí que segue...

Esse é outro tema engraçado... (NA MINHA VIDA PASSADA) conheci 5 ou 6 escolas diferentes... em cada uma delas UM SISTEMA imposto por um CONS. EXECUTIVO mais ou menos prepotente, mais ou menos irresponsavel ou mais ou menos empenhado em "lamber as botas" ao Patrão "estado" que deles não sabia nem quem eram...

Querem mais AUTONOMIA?!? Nunca vi ninguém numa escola a não poder desenvolver um projecto X ou Y por falta de autonomia... mas sim por falta de vontade... a AUTONOMIA é mais uma farsa para os "pacovios" cairem que nem patinhos a caminho da PRIVATIZAÇÃO GERAL onde depois funcionará o sistema que se conhece dos PRIVADO... onde a AMIZADE é um sentimento tão VALIOSO e BONITO... e onde trabalha quem mais horas fizer e mais barato... a isto chamo... ENSINO DE QUALIDADE...

Tenho dito...